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A crise dos Impressos

  • Letícia Santini
  • 11 de out. de 2016
  • 4 min de leitura



O desenvolvimento recente de novas tecnologias de informação, em especial a internet, abalou de forma contundente os jornais impressos. O papel de ser o primeiro a dar a notícia, no dia seguinte ao fato ocorrido, está deixando de ser dos jornais nesse início de século e sendo ocupado, rapidamente, pela crescente plataforma digital, em que as publicações assumiram um caráter de instantaneidade. A espera pelo amanhecer e a corrida às bancas para ter conhecimento das principais notícias foi substituída pela rapidez da internet, informando os acontecidos – muitas vezes – em tempo real.


Engana-se, porém, quem crê na internet como a única causadora da crise do jornalismo impresso. A própria televisão, a queda do hábito de leitura e a falta de incentivo no ambiente escolar são agentes que auxiliaram a queda de circulação dos jornais, já percebida há décadas. No entanto, é notória a presença da internet no processo de aceleração de uma crise já existente e que tem se intensificado de forma significativa. Por conseguinte, os efeitos percebidos são a completa extinção de alguns jornais das bancas e a migração intensiva do conteúdo para o meio digital, parcial ou inteiramente.


O notório Jornal da Tarde, por exemplo, lançado no final da década de 60, tornou-se, em outubro de 2012, mais uma vítima da crise global que atinge jornais e revistas impressos na era digitalizada. Em entrevista aos alunos do 1º ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, o jornalista Ferdinando Casagrande relatou sua experiência vivida no JT e detalhou um pouco mais do lançamento do e-book ‘’Jornal da Tarde: Uma Ousadia que Reinventou a Imprensa Brasileira’’.


A redação jovem do jornal, conhecida como ‘’os meninos do Ruy’’ em referência ao diretor do Jornal, Ruy Mesquita, foi extremamente importante para que as mudanças ocorridas na época, como as revoluções políticas e as revoltas estudantis insurgindo-se contra as tradições, fossem retratadas de maneira diferenciada do convencional. E para que, também, as publicações rompessem com os conceitos já pré-estabelecidos. “O JT inovou no conteúdo e na diagramação. Mais do que a notícia, o que importava era a história que havia por trás da notícia. Cada reportagem tinha tratamento individual, com a diagramação feita sob medida para aquela história. O padrão era não ter padrão”, completa o jornalista.


A partir de 2003, com a saída da família Mesquita do comando da empresa, o jornal encontra-se em um momento de perda de identidade e a partir disso, direciona-se para um caminho de jornalismo popular, perdendo suas características inovadoras - fundamentais para consagrá-lo como o mais vendido nas bancas da Grande São Paulo durante vários anos. Assim, também com o auxílio do crescente protagonismo da internet, o jornal extinguiu-se das bancas do país.


Em 2012, o Grupo Estado emitiu nota oficial, confirmando o encerramento das atividades do Jornal da Tarde. A última edição circulou em 31 de outubro com manchete especial em agradecimento à capital paulista. O "Jornal do Carro", que era encartado nas edições das quartas-feiras, foi incorporado ao jornal O Estado de S. Paulo.


Em uma tentativa de resgatar a memória do jornal que encantou duas gerações de jovens leitores e ao próprio autor, já que a sua primeira experiência profissional foi no JT, Ferdinando Casagrande reuniu no e-book dezenas de entrevistas com jornalistas que ajudaram a escrever a história do periódico. Com leitura fluída e dinâmica, fala-se no livro de paixão, mergulho no ofício, combate à censura, criatividade e ousadia para driblar as dificuldades e contar boas histórias.


Nesse ínterim, percebemos, também, a migração do conteúdo de jornais tradicionais para a plataforma digital. Inteiramente, no caso do carioca Jornal do Brasil e, parcialmente, no caso de grandes meios de comunicação como o espanhol El Pais e os nacionais Folha de São Paulo, O Globo e Estadão. Nos EUA, os veículos impressos, como no caso do New York Times, têm perdido receita publicitária e encontram-se diante de dificuldades. A migração digital pode ser uma forma de amenizar esses prejuízos, ao diminuir custos ou estancar crises financeiras.


Impresso até agosto de 2010, o Jornal do Brasil, um dos mais antigos jornais em circulação no país, tornou-se exclusivamente digital, saindo de cena das bancas cariocas após 119 anos. Pioneiro no Brasil, o JB chegou à internet ainda no distante ano de 1995, época em que a web ainda dava os seus primeiros passos. Ao migrar-se inteiramente, anos depois, o periódico reafirma essa poderosa e crescente forma de distribuição de informação, autodenominando-se "O Primeiro jornal 100% digital do País!".


O espanhol El País, um dos mais influentes do mundo, anunciou em meados de 2009 a união entre as versões impressa e online do jornal. Assim, uma única redação produz conteúdos para papel, internet e smarphones, em uma mudança chamada pela direção do jornal de ‘’plano de sobrevivência’’. O diretor do Grupo Promotora de Informaciones (Prisa), que publica o jornal, Juan Luis Cebrián, considerou o processo inevitável já que em 15 anos, acredita ele, o jornal impresso estará extinto.


O debate do futuro do jornalismo tradicional ganha força. Antes, recursos que eram exclusivos dos jornais e que cabiam às revistas, como o próprio nome diz, revisar e aprofundar as informações; hoje, são funções executadas pela internet. Desse modo, a decisão de transformar a produção do impresso em uma parte do trabalho da empresa – e não mais no coração das atividades de comunicação – é um grande passo numa dança ensaiada há mais de uma década, quando a internet surgiu como um novo meio de comunicação capaz de suportar, com mais agilidade, o conteúdo dos jornais impressos.


 
 
 

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